segunda-feira, 19 de maio de 2008

Exemplo de redenção após o final da carreira

Leandro Silva

O auxiliar técnico do Bahia Jorge Augusto Ferreira Aragão é um exemplo de profissional correto e admirado. Ele é uma peça respeitada no Fazendão e se prepara até para concorrer novamente à vereança de Salvador.

O ex-jogador Beijoca, lendário ídolo do mesmo clube na década de 70, era um artilheiro quetinha uma igual aptidão para arrumar confusões dentro e fora de campo. E ainda sofria com o alcoolismo. O que eles têm em comum, então?

Eles são a mesma pessoa. Ou melhor, Beijoca, aos 54 anos, não é mais o mesmo. E a redenção veio antes que aqueles que se alegraram com seus gols se entristecessem com sua morte. “Pra mim, foi a última tentativa. Teve momentos em que pensei em tirar minha vida”, confessa.

A salvação foi se tornar evangélico, anos atrás. “As pessoas pensavam que eu ia morrer bebendo depois que parei de jogar. Mudei para melhor, me converti, parei de beber e hoje prego nas igrejas. Tenho uma vida abençoada por Jesus”.

Mas essa mudança não aconteceu logo depois do final da carreira. “Eu ainda tive uma caminhada de dificuldades, envolvido com as coisas do mundo, muita farra, bebidas, muitas brigas. Mas há sete anos, eu conheci Jesus e minha vida mudou. Hoje sou missionário”.

Antes Beijoca chegou ao fundo do poço. “Na verdade, eu perdi tudo. E fiquei sem condições de pagar nem um aluguel de 50 a 70 reais. Passei a morar de favor com minha mulher e meu filho”, revela emocionado.

Mas a força de vontade e a fé fizeram com que ele se reconstruísse. “Deus me deu tudo de volta. Hoje eu sou uma peça importante aqui no Bahia”.

Passado – Apesar da mudança, o ex-craque não renega o passado. “Acho que tudo isso me ajudou. Aí você pode perguntar: ‘Pô. Você brigar, ajudou? Como? Ajudou porque eu fazia tudo aquilo diante de uma nação que é a torcida do Bahia. Eu fazia aquilo tudo pela torcida, para ganhar”.

E continua: “Dentro de campo, eu voltaria a fazer tudo porque o Bahia é minha paixão, meu orgulho”.

Ele não se furta a falar sobre nenhum assunto do seu passado. “Bebidas, prostitutas, envolvimento em alguma parte da minha vida até com drogas. Tudo isso eu larguei”, conta.

E os casos famosos de confusão? Uma vez, no Flamengo, ele estava no banco, entrou no jogo e deu um soco no jogador Mococa do Palmeiras.

Muitos afirmam que o técnico Cláudio Coutinho mandou que ele entrasse e fizesse isso. “Aquilo que aconteceu no Flamengo não foi mandado por ninguém. Isso que falam é uma mentira. Foi uma coisa de momento, mas o técnico me colocou em um momento que ele sabia que eu ia fazer besteira. Mas ele não mandou, nada”.

Outra: “Teve um jogo Bahia e Fluminense e dentro de uma briga generalizada, eu dei um murro em um jogador chamado Oliveira, do Fluminense, e ele perdeu a visão de um olho. Eu gostaria de encontrá-lo para pedir desculpas” diz emocionado.

E mais: “No Carnaval, quando saia nas Muquiranas, uma pessoa caiu em um tacho de acarajé. Falam que peguei o tacho fervendo e joguei em uma pessoa. Mentira. Se eu tivesse feito isso, minha mão não estaria assim (sem marcas)”.

Matéria publicada originalmente no Jornal A Tarde do dia 18/05/2008

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