quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Heróis - ontem, hoje e sempre

Leandro Silva e Nelson Barros Neto

“Triste do povo que precisa de heróis”, já dizia Bertolt Brecht. Experimente, então, perguntar a um torcedor do Bahia se ele concorda com o dramaturgo alemão. A maioria dirá que uma das maiores felicidades que já teve na vida foi proporcionada por um grupo que desafiou grandes potências do futebol brasileiro para recolocar o Esporte Clube Bahia no topo, 29 anos depois da turma de Nadinho, Leone, Marito & Cia, em março de 1960. Ainda antes do “fenômeno Raudinei”, em 94.

E esse grupo tinha fortes identificações com o tricolor. Dos 21 atletas que entraram em campo naquela Copa União, 13 eram baianos, e das mais diversas cidades. Foram reforçados por atletas de outros cantos do País, que vieram agregar temperos diferentes a um título que orgulhou toda a Região Nordeste. Hoje, muitos deles já retornaram para as suas terras de origem, mas guardam as lembranças de quando foram os donos da nação pentacampeã do futebol. Outros se estabeleceram em Salvador, permanecendo próximos da agremiação que ajudaram a erguer.

A montagem do plantel começou ainda durante a campanha do tricampeonato estadual. De uma só vez, chegaram Sidmar (do XV de Piracicaba/SP), Paulo Robson (São Bento/SP), Paulo Rodrigues (Botafogo/SP) e Renato (Porto Alegre/RJ). Encerrado o certame local, em agosto, foram contratados Tarantini (Flu de Feira) e Newmar (Pinheiros/PR). O Esquadrão estava pronto para a batalha.

O ex-goleiro Sidmar não foi encontrado, mas está treinando o Volare FC, no Japão, após ser ídolo no Shimizu S. Pulse. Centroavante do início da jornada, Renato é procurado até mesmo pelos colegas e a imprensa de sua Caxias do Sul/RS. Também participava do grupo o atacante Marcelino, que entrou no decorrer de uma partida, contra o Goiás, além de Rogério, Chiquinho, Ricardo Dantas, Maílson, Carlos Amadeu e Marcelo Jorge.

Entrevista com Paulo Maracajá

LEANDRO SILVA | O que essa data representa?
PAULO MARACAJÁ | Representa a maior conquista esportiva que já tive na minha vida. Afinal de contas, eu tive a honra de ser o presidente do Bahia na hora em que o clube conquistou o Campeonato Brasileiro de 1988, concluído em 19 de fevereiro de
1989. É o ponto máximo ser campeão de um País chamado Brasil. É algo inesquecível que marcou a minha vida e a de todos os torcedores do Bahia, e deixa uma saudade
muito grande.

LS| Qual amaior contribuição do senhor para o título?
PM | Foi presidir,coordenar e liderar, porque você sabe que, para ter êxito, tem que ter liderança. E eu liderei um time de dirigentes dos mais competentes. Nós tínhamos
os falecidos Raimundo Deiró e Fernando Moreira como diretores de futebol, Francisco
Pernet, como diretor financeiro. E citaria Orlando Aragão, o maior supervisor de futebol que eu conheci...O inesquecível Alemão(massagista). Tivemos uma comissão
técnica chefiada por Evaristo de Macedo e o professor José Carlos Queiroz.

LS| O senhor não achou que as saídas de Sidmar e Pereira poderiam ter sido decisivas?
PM | Não foi, por causa da qualidade dos reservas. Eu nem diria reservas: a qualidade dos jogadores que entraram no lugar. Ronaldo fechou o gol e Claudir era um
gigante de ébano. A zaga formada por João Marcelo e Claudir foi excelente nos seis jogos finais.

LS | E qual a análise técnica daquele elenco?
PM | Eu acho que se dosou a mocidade com a experiência. Você tinha a mocidade de João Marcelo e Charles e a experiência de um Paulo Rodrigues, um Paulo Robson.
E nós tivemos a felicidade de ter o maior frente-de-zaga da história da Bahia, que eu conheci. Acompanho futebol desde os anos 50 e acho Paulo Rodrigues o melhor cabeça-de-área que vi.

LS | Por que o senhor acha que nenhum outro clube nordestino, nem o próprio Bahia,
conseguiu repetir o feito?

PM | O Bahia quase chega perto.Um ano depois, em 1990, ficou entre os quatro no Brasileiro, quando perdeu para o Corinthians, lá, por 2 a 1, e empatou aqui, em 0 a 0. Se ganhasse de 1 a 0, iria para a final novamente. Então, tentou. Em 1994, foi sexto colocado. Então, chegamos a brigar. Mas você sabe que o Brasileiro é muito difícil, principalmente para os clubes nordestinos. Você vê que o Sport Recife
foi campeão, ‘vírgula’, disputando o módulo amarelo, contra os times da Segunda Divisão.

LS| Logo depois da conquista, Bobô deu uma declaração de que a Bahia não veria um título como aquele nos próximos 30 anos. O que o senhor achou daquela declaração?
PM | Eu acho que 20 anos se passaram. Bobô disse 30. Então ainda faltam 10 anos para a gente quebrar esse vaticínio (risos). E tomara que seja quebrado pelo Bahia. E sejamos campeões brasileiros novamente.

LS | O senhor vê perspectivas de o Bahia voltar a ser campeão brasileiro?
PM | Eu acho que pode.O Sport,em 2008, foi campeão da Copa do Brasil. O Paulista de Jundiaí e o Santo André, também. Eu acho que pode, sim. É só contratar os jogadores certos, motivar a equipe, ter atrás de si um grande treinador e uma grande torcida. Basta abrir o estádio de Pituaçu pra lotar. Então, ter a torcida do Bahia por trás já é um handicap muito grande.

LS | Por que o Bahia não conseguiu aproveitar a oportunidade de crescimento?
PM | O Bahia aproveitou. Conseguimos bater o recorde de sócios, mais de 10 mil. E revitalizar a sede de praia do clube. Fizemos parque infantil, piscina, toboágua
e conseguimos com isso melhorar muito o quadro social do Bahia. Hoje, se o Bahia estivesse na Série A, teria R$ 1 milhão e meio por mês. Como está na Série B, só recebe 400 mil. A visibilidade da Série A é maior. Então, os contratos de patrocínio são mais baixos na Série B. O que desequilibra a favor do Bahia é a torcida porque lota, mesmo com ingressos de R$ 20 ou 30.

LS | Além do troféu e do orgulho do torcedor, o que o clube ganhou com a conquista?
PM | A rivalidade. Porque o Vitória não pode cartar com a gente em nível estadual. A maior sequência de títulos é nossa, com o heptacampeonato, que completa 30 anos em setembro. E no âmbito nacional, a gente pode dizer ao torcedor do Vitória: ‘a gente
tem duas estrelas no peito. E vocês,têm aonde?’. Não têm. No Nordeste, ninguém tem. O único bicampeão brasileiro é o Bahia. E você sabe que existe essa rivalidade
entre os torcedores. E esse é um título inesquecível para os torcedores.

LS | Do topo do País, em 1989, o senhor imaginava ser possível o Bahia chegar a uma
Série C de Brasileiro?

PM | Não. Eu nunca pensei nisso, tanto que eu estou repetindo pra você que, em 1990, o Bahia foi terceiro, e em 1994 foi sexto. Eu nunca pensei nisso, mas são coisas
que acontecem no futebol.Graças a Deus, já subimos para o purgatório e agora temos que ir para o céu, que será a Série A.

LS | Tanto tempo depois, existe alguma coisa de bastidores que nunca foi contada e que o senhor poderia contar agora?
PM | Tem muita coisa de bastidores que se passou. Mas eu acho que deve continuar nos bastidores ainda, porque eu acho que você não pode revelar tudo. Se houve indisciplina de algum jogador,ou algum problema, não temos que ficar contando. Nós
temos é que nos unir por termos sido campeões brasileiros que é o sonho de qualquer presidente e de qualquer jogador.

LS | Quer falar mais alguma coisa sobre aquela época?
PM | Agradecer à maior manifestação da minha vida. No aeroporto, no dia que o Bahia chegou. O avião pousou e milhares de baianos invadiram a pista e tiraram os jogadores do avião para o trio elétrico. Fomos até a sede de praia. E o povo vibrando nas casas. Uma emoção inesquecível. Eu fui uma vez ao aeroporto quando o Papa veio a Salvador. O Bahia suplantou até a recepção que o povo baiano deu ao Papa.
Porque o Bahia tem a torcida que mais ama seu clube. O torcedor mais apaixonado. Não tem torcedor mais fiel que o do Bahia.

Entrevista com Evaristo de Macedo

LEANDRO SILVA | Qual o segredo para grandes vitórias, a exemplo daquela contra
o São Paulo, no Morumbi, e a goleada contra o Santos?

EVARISTO DE MACEDO | Acho que o nosso time tinha uma coisa muito importante, que era a confiança.Quando nós fomos jogar contra o São Paulo, uma grande equipe, não tínhamos que estar preocupados com o ambiente que envolvia o jogo. Porque, às vezes, nos deixamos levar... Nós enfrentamos essas boas equipes conscientes da nossa qualidade. Nós não fomos para jogar recuados. Jogamos de igual pra igual. Eles também tinham que se preocupar. Eles que se preocupassem com a gente. E se preocupavam. A verdade é essa.

LS | Aquelas declarações atribuídas ao senhor de que o time era fraco, eram só jogada?
EM | Deixa eu te explicar. A gente recebia críticas no início. Então, no deboche, a gente dava respostas como ‘Nosso time não joga nada, mesmo. Você tem razão’. Era uma resposta que não dizia a verdade, mas estava no mesmo nível do que era falado sobre nós. A gente, às vezes, faz umas concordâncias mais para contrariar o que foi dito do que para concordar. Confiei plenamente desde o início.

LS | Paulo Rodrigues gosta de dizer que alcançou um tempo em que o jogador quando dava um bico ficava com vergonha e que o time do Bahia era muito técnico. Era uma preocupação só dos jogadores?
EM | Era uma preocupação nossa. Nós escolhíamos jogadores técnicos. O único do time que era discutível era o Tarantini, que eu trouxe do interior. Acho que até por ser baiano. Ele nos ajudava muito ali atrás. Os outros jogadores eram tecnicamente muito
bons. O Bobô, o Zé Carlos, o Paulo Rodrigues... A grande virtude do nosso time era saber partir pra cima desde o início, pegar o time adversário de surpresa.

LS | Falando nisso, até hoje muitos dizem que o Bahia foi campeão ‘apesar de Tarantini’. O que o senhor acha disso?
EM | É um preconceito porque na época o Bahia tinha um lateral chamado Zanata, só que ele não se enquadrava nos moldes da equipe. Nós tínhamos uma equipe de rapazes dedicados. E ele não era. Chegava atrasado, não tinha o mesmo comprometimento. Eu cheguei à conclusão de que era melhor afastá-lo. Eu achava ele muito bom,mas essa
convivência dele com o grupo foi desgastando. E ficou na imagem da torcida aquele lateral que atacava, que subia. Mas, pra mim, o que interessava eram laterais
mais defensivos. Precisávamos de um lateral que cobrisse melhor o lado dele e ajudasse os zagueiros. Até porque eu liberava os volantes. Ele era um bom jogador.
Um jogador forte, que conhecia bem a posição dele. E isso não era muito entendido. Porque a ação ofensiva do Zanata, Zé Carlos fazia muito bem.

LS| E o senhor tem acompanhado o Bahia?
EM | Tenho. É uma coisa interessante porque os outros times gostam do Bahia e de ir à Bahia.Mas vamos torcer para melhorar. Anteontem (domingo passado), eu vi a vitória do Bahia sobre o Vitória, no Barradão. Vamos ver se, vencendo o regional, ganha uma
força pra Segunda Divisão. Eu gosto muito do Gallo. Foi meu jogador no Santos, sempre foi muito inteligente. E eu tô torcendo muito por ele. No dia que eu for aí
na Bahia, quero ir dar uma força pra ele. Eu sou Flamengo, mas tenho um carinho muito grande pelo Bahia. Acompanho muito de perto, aqui no computador, sempre que o Bahia joga.

LS | Como o senhor vê essa situação do Bahia longe da Fonte Nova, hoje interditada?
EM | Para o Bahia, é fundamental. O Bahia é Bahia com a Fonte Nova. Todos os grandes títulos que consegui com o Bahia, todos os grandes jogos, foram na Fonte Nova. É a casa do Bahia. É onde o adversário tem respeito. É igual a aqui no Rio de Janeiro. Você vai jogar contra o Flamengo, aí perguntam: ‘É no Maracanã?’. Já entra preocupado. É a mesma coisa. É preciso que a Fonte Nova volte,para o Bahia ser forte de novo. Estou acompanhando que o Bahia está se identificando com Pituaçu. Não tem nada a ver. Pituaçu e os outros campos são iguais. Não deixa de ser Pituaçu. A ligação do Bahia com a Fonte é extraordinária. A torcida vai gostar.Mas fica aquela saudade, pode ter certeza. A história do clube se confunde com a da Fonte Nova.

Alguns textos especiais sobre o título brasileiro de 1988 do Bahia

Leandro Silva e Nelson Barros Neto

Zanata confessa. Arrepende-se de ter trocado o Bahia pelo Palmeiras pouco antes do início do
campeonato. “Infelizmente, eu via pela TV e queria estar ali. Mas como é que eu ia advinhar?”,
lamenta, admitindo ter tido uma “briga feia” com Evaristo de Macedo na reta final do Estadual – embora ampare sua saída numa “proposta dobrada e mais perto da família”.
Um dos principais ídolos tricolores da época, talvez mesmo o maior, o lateral-direito relata o
sucesso que teve nas equipes por onde passou depois. E não deixa de provocar, em declaração
que – verdade – encontra eco em boa parte da torcida: “O time de 86 era bem melhor. Naquele,
sim, só tinha alto nível”.

Além de Zanata, Zé Carlos e Bobô, o escrete de ‘Titio’ Fantoni, recordista de jogos invictos no País, ainda contava com um inspirado Claudio Adão. Mas por que, então, parou nas quartas-
de-final do Brasileiro, eliminado que foi para o Guarani?

Citado, Bobô diz não existir uma resposta objetiva para explicar o feito de 88, com peças até hoje criticadas e início de campanha cambaleante. Bastam minutos de conversa, entretanto, para se começar a entender. “Acho que combinou um monte de coisas. Um bom treinador, um excelente time, entrosado, e acho que o entrosamento ali foi diferencial, porque a gente já vinha jogando
junto há dois, três anos. Então, todos nós nos conhecíamos”.

Continua o camisa 8: “Era um time muito forte, e tecnicamente muito bom. Ele tinha velocidade,
mas com muita qualidade técnica. Nós tínhamos o Charles no esplendor da forma dele, sabe? Charles novinho era muito chato jogando. Prendia a bola, tinha o tempo certo de jogo. Sem falar na nossa velocidade extraordinária no momento dos contra-ataques”.

Em opinião que coincide com a dos colegas, o diretor-geral da Sudesb destaca que o Bahia
cresceu dentro da competição. “Foi ganhando maturidade e a confiança necessária pra poder
chegar aonde chegou. E o time jogava com alegria. A gente saía, ia comer um pastel, ia tomar
uma cerveja, as mulheres se reuniam com as namoradas. Então, não era um time de estrelas.
Pelo contrário. Era um time modesto, em que cada jogador tinha um sonho”, conclui.

Parceiro de meio de campo, Paulo Rodrigues endossa:“Chegamos a um ponto que as preleções
eram de cinco minutos nas finais. A gente perguntava era sobre a marcação. Se ia marcar
em cima ou esperar o adversário. O resto, a gente já sabia. Ele (Evaristo) conseguiu passar
tudo. Iam saindo as jogadas com a maior naturalidade”.

Zé Carlos, enfim, ressalta a importância da identificação dos atletas – em sua maioria de baianos – com o tricolor. “Eu fui criado pelo Bahia, subi da base e fui campeão. Era meu único clube até então. E isso faz você se entregar mais”, acredita.

O torcedor torce o nariz sobre eventuais “ajudas espirituais” ao tricolor, mas o lateral Paulo Robson conta um episódio engraçado, que mostra que elas realmente faziam parte do contexto. “Estávamos, eu e Paulo Rodrigues no quarto, aí bateram na porta. Disseram que a gente tinha que fechar a corrente. Eu vi um cara de quase dois metros de altura. E ele disse que tinha que dar uma surra de galo na gente! A gente não queria porque não sabia dessas coisas. Depois, o pessoal pressionou porque faltava só a gente pra fechar a corrente e eu entrei em um lugar com água, e o cara começou a me bater com o galo. Ninguém acredita, bicho, que eu tomei surra de galo aí na Bahia”, entrega, às gargalhadas.

Matéria publicada originalmente no jornal A Tarde do dia 15/02/2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Vitória 0 x 2 Bahia - no blog de Mauro Beting

Leandro Silva

O clima de rivalidade que tomou conta da cidade era visível por todas as partes: azul, vermelho e branco e vermelho e preto deixavam o verão de Salvador ainda mais colorido, desde cedo. Era o 415º Ba-Vi. No entanto, ao final do dia, apenas os tricolores tiveram razão para enfeitar as ruas da cidade com a conhecida combinação de cores, após os 2 a 0, que garantiram a liderança, mesmo com um jogo a menos que o rival e a manutenção de um tabu de 3 anos, ou 7 jogos, sem perder no Barradão, com 5 triunfos e 2 empates.

Quanto mais se aproximavam as 17 horas e a área do estádio Manoel Barradas, maior a concentração de cores na cidade. A festa nas arquibancadas era bonita e não parou, mesmo depois que cerca de 50 torcedores do Vitória ficaram feridos por causa de um tumulto envolvendo a polícia na maior torcida organizada do clube.

A rivalidade mostrou as caras logo em um dos primeiros lances do jogo, quando o tempo fechou depois que o volante Vanderson deu uma cabeçada no garoto Ananias.

A torcida do Bahia, assistia, assustada, a um primeiro tempo de pressão do Vitória, que desperdiçou grandes chances com o ídolo Nadson, ex-Corinthians, um gol feito, e vários chutes para o alto do veterano Jackson, ex-Palmeiras.

O término do primeiro tempo com o placar inalterado foi um alívio para a torcida do Esquadrão, mesmo com um esquema ofensivo com dois meias-atacantes e dois atacantes, o Tricolor foi encurralado.

No intervalo, Gallo começou a ser decisivo. Sacou o meia Hélton Luiz, ex-Náutico,destaque do clube no campeonato, e colocou o volante Léo Medeiros, ex-Flamengo. Parecia a senha para armar uma retranca para segurar o empate. Ledo engano. Foi aí que o time deslanchou. Com passes longos e precisos, Léo fez o time do Bahia voar em campo e surpreender o Vitória. Mas ainda faltava uma correção de rota. O treinador havia preferido improvisar o volante Marcone na lateral-direita, deixando o titular Patrício, no banco, por condições físicas, mas o garoto, apesar da vontade não conseguia colaborar ofensivamente. Com a entrada do veterano ex-gremista, o time ganhou mais opções ofensivas e foi ele quem descobriu o baixinho Beto, sozinho do canto da área, livre para colocar o Bahia na frente. Ele chutou cruzado, mas quem tocou contra a própria meta, tentando cortar, foi o ex-palmeirense Thiago Gomes.

Festa do lado tricolor das arquibancadas do Manoel Barradas. A partir daí, o Leão parecia nervoso. Melhor para o Bahia. Logo depois, Patrício fez um lançamento para o volante ex-atleticano Elton, mas a bola seria interceptada pelo goleirão colombiano Viáfara. Seria, porque o arqueiro vacilou e a bola passou por baixo das pernas. Atento, o volante pegou do outro lado, puxou para a perna esquerda e tocou para o gol vazio. A festa não tinha mais hora para acabar para a maior torcida da cidade.

Méritos para um time que conseguiu se reinventar no intervalo, graças ao olhar aguçado do paulista Alexandre Gallo, mas também pela entrega de todos, a exemplo dos zagueiros Alison e Nen, os volantes Leandro Makelele e Elton e o meia Ananias.

Ainda houve espaço para o ex-presidente rubro-negro Paulo Carneiro e o Governador Jaques Wagner serem cantados pela torcida tricolor e xingados pela torcida rubro-negra. Agora, o Bahia tem 16 pontos, invicto, contra 15, do Vitória, que tem um jogo a mais. Na teoria, o resultado de ontem deve servir apenas para ajudar a garantir vantagem em uma futura e possível final. Na prática, é como mais um título para o tricolor, no campeonato da rivalidade.

Texto postado no blog de Mauro Beting

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Texto no blog de Mauro Beting

Leandro Silva

O Vitória tinha 100% de aproveitamento, mas só tinha conseguido jogar bem mesmo na goleada de 7 a 0 sobre o Poções. Perdeu na quarta-feira para o Fluminense, em Feira de Santana. Já o Bahia empatou o primeiro jogo, mas ganhou os quatro seguintes e é o único invicto. Tem um jogo a menos e se vencer domingo assume a liderança. No meio de semana, deu 6 a 0 no Atlético de Alagoinhas, no estádio de Pituaçu.

É o segundo jogo do estádio depois da reinauguração e no primeiro o Bahia já havia goleado o Ipitanga por 4 a 0. A torcida do Bahia está em uma empolgação só. Primeiro, porque passou o ano todo com o time jogando fora de Salvador. No ano inteiro, só jogou dois jogos na capital (os dois clássicos, que venceu, no Barradão, por 2 a 0 e 4 a 1).
Além do mais, o time está aparentando ter mais qualidade que os dos últimos tempos. O goleiro Marcelo, ex-Corinthians, caiu nas graças da galera com as grandes atuações - até o momento, não sofreu gol com a bola rolando no campeonato, foi vazado apenas em duas cobranças de pênalti. Os laterais Patrício e Rubens Cardoso ainda não parecem 100%, mas já fizeram gols e ótimos cruzamentos. O zagueiro Nen, ex-Palmeiras e Atlético-MG, veio para arrumar a cozinha tricolor e dá tranquilidade pra quem joga do seu lado, seja Alison ou Rogério. Rogério Correia ainda não estreou. No meio, Leandro Makelele e Elton têm protegido bem a defesa, mas os xodós da hora são os baixinhos Hélton Luiz, ex-Náutico, e Beto, ex-Atlético Mineiro.

O Vitória perdeu muitos destaques da boa campanha do Brasileiro passado, como Willians, Marquinhos, Marcelo Cordeiro, Renan, Leonardo Silva, Dinei, mas segurou alguns como o goleiro Viáfara, o zagueiro Anderson Martins e ainda contou com a volta de Bida, Apodi e Nadson, e com a contratação de jogadores como Cristian, Willian, Rafael Bastos e Washington.
Dois fatores extra-campo também apimentam a rivalidade. É o primeiro clássico desde que Paulo Carneiro, que era presidente do Vitória por muitos anos, foi para o Bahia. E muitos rubro-negros estão mordidos com a migração. Do mesmo modo, a torcida do Vitória anda na bronca com o governador Jaques Wagner, tricolor declarado, que teria mostrado um empenho exagerado na reconstrução do estádio Roberto Santos, de Pituaçu.
É promessa de muita disputa no Barradão, onde o Bahia não perde há seis jogos.

Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting

Entrevista com Elias sobre o Ba-Vi

Leandro Silva
Destaque do último Ba-Vi, no Barradão, o meia Elias agora está no Atlético Goianiense. Suspenso na rodada do Goianão, ele irá reforçar a torcida tricolor por mais um triunfo no Barradão. Confira o bate-papo do antigo camisa 10 com este blogueiro:
Leandro Silva: E aí, Elias? Está acompanhando o Bahia, mesmo de longe?
Elias: Tô, sim. Tenho muitos amigos aí, né? Tanto no Bahia quanto fora também que sempre me falam como o Bahia está.
L.S: Está torcendo por uma vitória domingo do Bahia? Ou, como profissional, prefere ficar isento?
E:
Com certeza. Apesar de ter saído daí, tenho um carinho enorme pelo clube. Se eu sou quem sou hoje, devo muito ao Bahia. Então não tem como eu esquecer.
L.S: Arrisca um placar?
E: 1 a 0 pro Bahia
L.S: E quem você acha que pode chamar a responsabilidade nesse clássico?
E: Acredito que Patrício e Rubens Cardoso, que são os mais experientes. Então, eles podem ajudar bastante num clássico difícil como esse. E pelo que eu tô acompahando, tem esse Hélton Luiz, né? Eu não conheço, mas parece que está se destacando bem. Pelas informações que eu tive de muitos amigos meus que assistiram aos jogos e falaram muito bem dele.
L.S: E de todos os Ba-Vis que você disputou, qual foi o que ficou mais marcado?
E: Com certeza, o de 4 a 1, no Barradão. Foi um dos jogos mais gostosos de minha carreira. Ganhar um Ba-vi no Barradão ja é gostoso, ainda mais de 4 a 1. Então, com certeza, foi esse. E ainda fiquei chateado quando saí do jogo justamente porque eu sabia que dava para a gente ganhar de uns 6 ou até 7. Porque, pra você ver, tava 4 a 1 com 10 minutos do segundo tempo, aí, se eu não me engano, com uns 15, Vanderson foi expulso. Aí, logo em seguida, Comelli me tirou. Achei que dava para a gente fazer mais gols e não recuar o time como ele fez. Mas foi uma opção dele, né? Não podia fazer nada.
L.S: Você se lembra quantos gols fez nos clássicos do profissional?
E: Acho que foram 4.
L.S: E na base, a rivalidade era maior, igual ou menor?
E: É claro que tem muita rivalidade também na divisão de base, mas, com certeza, nunca será igual à do profissional. A responsabilidade de um clássico no profissional é bem maior, mas é sempre bom vencer um clássico independente de onde seja.
L.S: E mesmo quem não é baiano se envolve nesse clima fácil, não é? Ou você já percebeu colegas que vieram de fora e pareciam um pouco alheios a essa rivalidade?
E: Já vi as duas coisas. Já vi colegas que não tavam nem aí. Não se envolviam muito. Como também já vi muitos colegas se envolverem bastante, também. Acho que isso é bem relativo. Alguns se envolvem, outros, não. Eu me envolvi bastante porque criei um carinho especial pelo clube. Sempre que entrava pra jogar, procurava fazer meu melhor para o bahia e quando chegava num jogo desses, que é especial, me envolvia até demais, eu acho (risos).
L.S: Até esquentava a cabeça, não, é?
E: Pra você ver. A vontade era tão grande de ajudar o bahia a vencer, que até acabei me excedendo um pouco em alguns jogos.
L.S: Conta como é que está aí, no Atlético Goianiense.
E: Graças a Deus, estamos fazendo um bom trabalho. Mas temos objetivos bem maiores do que ganhar 4 jogos. Queremos o título e depois subir para a Série A junto com o Bahia, com fé em Deus. Na verdade, aqui tá um mini-Bahia (risos). Tem Márcio, Chiquinho, Jair, eu e Luciano Totó. Jair tá bem demais aqui, cara. Nos 4 jogos, ele arrebentou. O time tá muito igual. Aqui, o elenco tá muito bom. Pra você ver, no jogo contra Itumbiara, que é o atual campeão e tem Túlio e Denilson, a gente tava com 7 desfalques e demos 3 a 1.

Ba-Vi será de maior rivalidade dos últimos anos

Leandro Silva

A torcida baiana acompanha neste domingo o Ba-Vi de maior rivalidade dos últimos 10 anos. Em 1999, os dois times dividiram o título porque a final não aconteceu. O Vitória foi para o Barradão - palco do jogo deste domingo- e o Bahia, para a Fonte Nova. Os presidentes Marcelo Guimarães, do Bahia, e Paulo Carneiro, do Vitória, travaram uma violenta disputa de bastidores e microfones. Desde então, nenhum confronto reuniu tanto tempero para acirrar os corações das torcidas.

No ano passado, o Bahia, que mandava seus jogos em Feira de Santana, tentou o empréstimo do Barradão na Série B, mas a diretoria rubro-negra não concordou. Posteriormente, quando seria vantajoso para o Leão abrigar os jogos do tricolor, por atrair recursos da Petrobrás, foi a vez do rival não querer mais.

Outro chamariz para o clássico envolve o ex-chefão do Vitória, Paulo Carneiro, que deixou o clube em 2005, após a queda para a Série C. Depois de quatro anos afastado da bola, Carneiro foi contratado pelo atual presidente, Marcelo Guimarães Filho, para revolucionar o departamento de futebol do tricolor. A troca de camisa está lhe custando um processo de expulsão do conselho rubro-negro.

Mais um ingrediente do Ba-Vi fica por conta da bronca da torcida leonina com o governador Jaques Wagner, tricolor, por causa do empenho na reinauguração de Pituaçu - mando de campo do Bahia - e por supostos benefícios ao Esquadrão. E mais: o jogo acontece na semana em que a cidade respira futebol por causa da visita da Fifa, que vai indicar as subsedes para a Copa de 2014. A torcida do Vitória está contente com a classificação do time na Sul-Americana e a do Bahia recuperou a confiança com a mudança de diretoria.
Nos bastidores, mais pimenta. A ida de Carneiro ao Bahia não foi a única mudança de ares polêmica. A cozinheira Fernanda fez greve por não receber salários no Bahia e foi demitida. Logo depois, foi parar na cozinha rubro-negra. Com direito a apresentação para a imprensa em clima de deboche.

Tecnicamente, também, o jogo promete. Reúne as duas equipes de melhor campanha do Estadual. A igualdade de condições entre Bahia e Vitória para o jogo é tamanha que as duas torcidas podem reivindicar o fato de ter o melhor time da competição até o momento.

O Vitória é o líder com 15 pontos ganhos. O Bahia vem em segundo com 13 e reivindica o melhor aproveitamento do campeonato, uma vez que teve o jogo contra o Madre de Deus adiado para sábado de carnaval. O Leão, que tinha 100% de aproveitamento até a última quarta-feira, quando perdeu para o Fluminense, vem mordido.

Nos bancos, pela primeira vez em Ba-Vis, estarão os treinadores Alexandre Gallo, do Bahia, e Vagner Mancini, do Vitória, amigos de infância no interior paulista de Ribeirão Preto. Lá, eles também se dividiam no clássico local. Gallo torce para o Botafogo e Mancini, para o Comercial.
Matéria publicada originalmente no Jornal A Tarde do dia 8 de fevereiro de 2008