quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Falaram pouco e jogaram muito - Corinthians campeão brasileiro de 2015

 As palavras estampadas na camisa comemorativa vestida pelos jogadores corintianos logo após o final do empate contra o Vasco, em 1 a 1, casaram perfeitamente com a atitude do Corinthians durante a campanha do hexa brasileiro: "Fala pouco e joga muito". Verdade que é uma campanha da Nike e a escolha das palavras deve ter sido motivada por uma provocação ao Atlético, já que durante a competição, o meia Giovanni Augusto, do Galo, tinha dito exatamente que o time dele falava pouco e jogava muito. Parecem, entretanto, palavras muito adequadas para esse grupo do Corinthians, comandado justamente por aquele que eternizou a expressão "fala muito": Tite. 

O mérito de Tite na conquista corintiana impressiona. Não pela falta de material humano de qualidade à sua disposição. Pelo contrário. Muitas vezes, quando um treinador é considerado protagonista em um título, o primeiro pensamento é de que ele contava com jogadores fracos e "fez mágica". Não é o caso do Corinthians. Uma atitude importante do comandante foi ter conseguido manter seus comandados distantes das polêmicas motivadas pela arbitragem. Enquanto grande parte da imprensa nacional alimentava as polêmicas e chegava a dizer que o campeonato estava manchado por benefícios ao time paulista, os jogadores permaneciam focados. Falavam pouco e jogavam muito. 

Esse foi um diferencial importante, pois em um momento do campeonato - pelo meio da competição, próximo ao final do primeiro turno - os jogadores do Atlético Mineiro pareceram em várias partidas mais preocupados em escancarar que estariam supostamente sendo prejudicados do que em reverter placares e ganhar as partidas. Os atletas do time mineiro, e até o treinador Levir Culpi - que realiza um dos melhores trabalhos à frente de um clube na atualidade, no País -, "entraram na pilha". A imprensa dizia que o Galo jogava o melhor futebol da competição e que o Corinthians só estava na frente por causa dos árbitros. E eles acreditaram. Passaram a falar muito e não a jogar menos do que poderiam. Jogaram muito também. A campanha do Atlético comprova, mas menos do que o Corinthians.   

No entanto, o maior mérito de Tite foi fazer com que os ótimos jogadores do grupo passassem a render mais do que em um passado recente, por exemplo. Graças aos seus conhecimentos táticos e também à sua condição de especialista em administração de grupo. Jadson, reserva no ano passado, recebeu proposta para sair no início do ano, e foi convencido pelo treinador a permanecer e brilhou. Quando Guerrero, Sheik e Fábio Santos saíram, houve propostas para as saídas de jogadores como Renato Augusto e Elias. Ambos permaneceram e brilharam. O zagueiro Felipe era criticado o tempo inteiro pela torcida e agora é campeão brasileiro como titular absoluto. Jovens como Guilherme Arana e Malcom terminam como titulares com grandes atuações, outros como o zagueiro Yago tiveram participações muito importantes em determinados momentos da competição. Ralf não rendia mais como nos velhos tempos. Foi para a reserva e quando teve nova chance como titular mostrou que ainda é muito importante para o clube.   

Ralf foi fundamental para o meio de campo que foi o ponto forte do Corinthians. O camisa 5 carregou o piano enquanto Elias, Renato Augusto e Jádson brilharam. O prêmio de melhor jogador do Brasileiro de 2015 seria bem entregue a qualquer um desse trio. Para a grande maioria, segundo pesquisas e premiações, Renato Augusto foi o melhor da competição. Na minha opinião, foi Jádson, por ter desequilibrado jogos muito complicados para o time paulista e ter mantido uma regularidade durante todo o Brasileiro, mesmo nos momentos de turbulência de ameaça de desmanche.

A história de Vágner Love também foi interessante. A oportunidade de contratação apareceu. E pareceu interessante. Se Guerrero saísse, Love poderia amenizar a perda. Caso continuasse, pela facilidade de movimentação, poderiam atuar juntos ou Vágner Love poderia ser um suplente de luxo. Vindo do futebol chinês, o atacante sentiu dificuldade na adaptação. Vontade não faltava. A entrega impressionava, mas a familiaridade com os gols não era a mesma. A insistência, a confiança dada por Tite, e o esforço dele, fizeram com que os gols voltassem e o atacante deu a volta por cima.

A Seleção Brasileira também pode seguir se beneficiando com o Corinthians. Na convocação mais recente, foram quatro jogadores do time paulista. No triunfo contra o Peru, apenas o goleiro Cássio não atuou. Gil, Elias e Renato Augusto foram titulares e tiveram atuações destacadas. Ainda há espaço para Jádson.   

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Por que o acesso não veio?


As esperanças de acesso para a Série A já foram duramente extintas neste ano de 2015 e o que resta é tentar entender o que deu errado para que o Bahia não alcançasse o objetivo que foi considerado como obrigação pela própria direção do clube. Além dos gols de Kieza, o bom primeiro semestre do Tricolor, campeão baiano e finalista do Nordeste, foi ancorado no meio de campo. 

Talvez tenha sido o maior mérito de Sérgio Soares no comando do clube. Formou um meio de campo com três jogadores que sabiam tratar bem a bola. Não havia a figura de um marcador implacável que se dedica exclusivamente a destruir as jogadas. Pittoni, Tiago Real e Souza, juntos, davam conta da marcação e municiavam bem os três jogadores mais ofensivos - geralmente Kieza, Maxi e Gamalho ou Zé Roberto. A saída de bola com qualidade, a partir de Pittoni, era um dos pontos fortes do time e uma novidade no clube nos últimos anos.

Os problemas apareceram quando a qualidade de alguns adversários aumentou, exigindo mais da marcação, e Souza deixou de marcar. Por má condição física ou orientação do treinador, Souza passou em vários jogos a passear pelo gramado, muitas vezes jogando aberto na ponta, mais avançado até do que Máxi, por exemplo. A partir daquele momento, Pittoni e Tiago Real ficaram sobrecarregados no meio. Tiago Real se desdobrava para tentar marcar por ele e Souza. Com isso, ficava nulo ofensivamente e passou a ser marcado pela torcida. 

Ficou claro que o Bahia não poderia mais jogar tão exposto. Naquele momento, a entrada de Yuri, único com a característica desejada para resolver o problema de marcação no lugar de Souza parecia ser a melhor opção. Reforçaria a marcação com Yuri, manteria a qualidade na saída de bola com Pittoni e daria um alívio para Tiago Real. Com a saída de Gamalho e a chegada de Eduardo para o meio de campo, ainda daria para colocar Eduardo ajudando a povoar mais o meio, deixando apenas Máxi e Kieza na frente. Sairiam dois jogadores em queda técnica e entrariam dois jogadores com características e posicionamentos diferentes, ajustando o time para a nova exigência.

No entanto, foi nesse momento que Sérgio Soares destruiu o time. Ao invés de colocar Yuri para auxiliar Pittoni, o treinador preferiu trocar um pelo outro, abrindo mão da qualidade técnica e saída de bola do paraguaio. Se o camisa 5 foi sacado do time por causa da negociação para renovação do contrato ou por causa de uma suposta assinatura de pré-contrato com o Vitória, por uma atitude da diretoria, como se especula, o ex-treinador deveria ter se pronunciado após a demissão, pois não deveria ter assumido por um erro que não teria sido dele. Como a versão oficial é opção do treinador, o erro continua em sua conta.

Com a ausência de Pittoni, o zagueiro Robson, que fazia uma excelente temporada de estreia como titular, começou a cair de produção, tentando fazer a saída do jogo à base de chutões, muitas vezes atrapalhados. O camisa 3 foi ainda mais prejudicado quando Titi foi para a Turquia. O antigo capitão ditava o jogo a todo momento para Robson, dizia o que o parceiro tinha que fazer e onde deveria estar a todo momento. Titi orientava e o zagueiro revelado pelo Bahia era um excelente executor. Sem o mentor do lado e jogando com Jailton, Robson parece ter sentido falta e caiu muito de rendimento. A defesa que era uma das melhores do campeonato passou a ser responsável direta pela perda de diversos pontos.

Com relação à defesa, Sérgio Soares também foi responsável porque no jogo contra o Sport, quando entregou uma classificação que já parecia tranquila para a próxima fase do torneio continental, ele inventou o zagueiro Thales de lateral-direito e, após a expulsão do próprio Thales colocou o também zagueiro Gabriel, recém-chegado para substituir Titi, em uma fogueira, como lateral. O jogador entrou frio, fora de posição, com o time com um a menos, há um bom tempo sem jogar e sem ter estreado ainda com a camisa do Bahia, portanto desentrosado, no momento em que o Sport pressionava. A falha bisonha cometida por Gabriel, além de custar a eliminação, foi responsável por deixar o zagueiro, que poderia formar uma dupla com Robson melhor do que Jailton, encostado. 

A sucessão de Sérgio Soares deixava claro que o tempo dele já tinha acabado no clube. O rendimento estava em queda livre. Perdia pontos inexplicáveis e até quando ganhava irritava a torcida com atuações muito ruins. A insatisfação era enorme e o treinador parecia estar perdido. Ninguém sabia mais qual era o time do Bahia. E o maior erro do presidente com relação ao futebol no ano foi insistir com o treinador. Durante o período em que já tinha ficado claro que ele não deveria ter continuado, ainda era possível encontrar bons treinadores disponíveis. A minha aposta seria em Guto Ferreira, que estava disponível, após ter sido demitido da Ponte Preta. 

Sérgio Soares, entretanto, só saiu quando faltavam apenas oito jogos para o final do campeonato e o time do Bahia já estava totalmente sem confiança e perdido. Como demorou para demitir o treinador, a diretoria não tinha mais tantas boas opções para resolver o problema. Guto Ferreira, por exemplo, já tinha acertado com a Chapecoense. A falta de tempo para que um treinador de fora chegasse e conhecesse o elenco tricolor também deve ter pesado para que Charles fosse efetivado. Pesquisas de opinião demonstravam que a torcida aprovava a efetivação do antigo camisa 9. Na minha opinião, entretanto, os resultados de tais pesquisas apenas retratavam que a torcida estava feliz pela saída de Sérgio Soares. Quem viesse seria lucro.

Os dois triunfos sob o comando de Charles nos primeiros jogos deixavam claro que a saída de Sérgio Soares era acertada. Restava saber se a escolha do substituto também teria sido. E não foi. Não havia muito tempo para conseguir arrumar o que Sérgio Soares havia destruído. Em situações como essa, valem mais ao treinador o poder de motivar e a capacidade de escalar bem a equipe. Nos dois primeiros jogos, Charles conseguiu aliar as duas coisas. A atuação vibrante contra Oeste e Criciúma comprovam isso. A entrada de Gabriel na zaga e a utilização de Paulinho Dias como primeiro volante, ao invés de segundo, também mostraram que o treinador estava escalando melhor que o antecessor, embora insistisse com dois erros cruciais: a permanência de Railan como titular e de Pittoni, como reserva. 

Mas aí veio o jogo contra o Botafogo. A derrota contra o líder do campeonato, fora de casa, era normal. Não havia motivo para desespero. Mas desde ali a escalação havia sido equivocada. A ausência de Máxi, que tinha jogado muito contra o Criciúma, foi inexplicável. E o time só melhorou quando o argentino entrou, já perto do fim. Pior, a saída injustificável do camisa 7 trouxe de volta o clima de desunião do final do ano passado, quando o treinador acusou Máxi de ter feito corpo mole na reta final do Brasileiro.

Com isso, nos dois quesitos em que ele poderia fazer melhor que o antecessor - motivação e escalação -, Charles começou a falhar feio. Se tinha assumido o time escolhendo bem as palavras ao se referir aos atletas, o ex-centroavante passou a questionar os comandados em público. Se antes, era polido ao comentar a ausência de Pittoni no time titular, elogiando o paraguaio, mas explicando a opção por outros jogadores por característica mais adequada para o momento, já disse logo após a derrota para o Botafogo que quatro ou cinco jogadores renderam muito abaixo do esperado. E que seis jogadores não conseguiriam carregar cinco.

Contra o Santa Cruz, no vexame da derrota de virada em casa, o erro na escalação veio na forma da insistência com Railan na lateral, da utilização de Rômulo junto com Eduardo no meio - nunca deu certo -, e a posta, em um momento crucial, em um menino que jamais havia atuado no profissional, o lateral Juninho. Na justificativa pela escolha, mais um erro na questão administração de grupo: Charles afirmou que só estava colocando o garoto porque não contava com nenhum outro lateral para a posição. A declaração infeliz além de não passar confiança para o jogador escolhido foi uma tremenda falta de respeito com Ávine, que estava liberado para atuar e ficou fora até do banco. Para completar, passou a ser áspero quando questionado sobre a ausência de Pittoni. "(Vai jogar) quando eu achar que pode. Tem é que treinar". Muito se fala sobre um péssimo ambiente entre o treinador e o grupo de jogadores. Receita pior não tinha. 

Que os erros não se repitam em 2016. Que se contrate melhor, afinal a margem de erros foi enorme. e que se acerte no treinador. Apesar das péssimas contratações, também foram contratados bons jogadores que se juntaram a bons remanescentes. Se o elenco não era espetacular, era superior aos de clubes como América Mineiro e Vitória, que acertaram com treinadores como Givanildo e Mancini que fizeram a diferença. 

Os avanços administrativos foram importantes. Não serão esquecidos. Mas não há motivos para comemorar porque essa deveria ter sido a vez do futebol e o acesso seria obrigação, apesar de ter todo ano, como disse o presidente. Fora de campo, que se busque uma maior sintonia entre torcida e clube em 2016. Algo nesse segundo semestre esteve estranho. Que a torcida seja enaltecida pelo clube de uma forma geral e não apenas os sócios. Esse discurso da diretoria e repetido por alguns sócios de que quem não é sócio não tem direito de reclamar e não ajuda o clube é conversa fiada. Afinal o Bahia é da torcida e não dos sócios. Ou, pelo menos, deveria ser.